Professoras e professores

Essa semana partilhando imagens da infância com minhas amigas queridas do grupo Coisa de Mulher, peguei meu álbum de fotografias que fiz artesanalmente em 1996, e lá encontrei a foto de minha primeira professora. Fiz a foto numa de minhas visitas à casa dela, já próximo da formatura em Jornalismo. Conheci Dona Luzia, antes dos seis anos de idade, quando fui levada por meus pais ao Educandário Padre Anchieta. Diferente da renomada escola de freiras que estudou minha irmã, a escola não gozava do mesmo prestígio e espaço físico. Lembro bem que eram apenas duas salas, duas lousas, bancos de madeira, e uma bancada imensa em que minha professora ficava devidamente posicionada, tomando nossa lição.

Naquela época não havia tablet e programas de ensino miraculosos, não havia reprodução de fazendinha, nem parquinho, ou educação bilíngue, nem todos os aportes que o marketing educacional oferece final de cada ano letivo por outdoors espalhados pela cidade. Era apenas uma tabuada, e uma Cartilha Método ABC: ensino prático para aprender a ler. Ah, e tinha a palmatória azul na mesa da professora, que nunca presenciei ser usada, nem em mim ou nos meus colegas.

Dona Luzia tinha uma voz grave, talvez gasta pelo exercício profissional. Gostava de vitamina de banana. E depois da alfabetização sempre me acolheu com alegria em sua casa, na rua Dezoito do Forte, todas as vezes que fui visitá-la. Além dela tive muitas outras professoras, mais que professores. Mas tive uma mulher inspiradora como professora de matemática, Aparecida. Mulher negra que enfrentou muitos desafios para conquistar seu espaço nas Ciências Exatas.

Soube bem cedo que no Brasil a Educação era desvalorizada com frequência, quando comecei o ensino fundamental e o gestor da época atrasou os salários dos professores, fazendo com que passassem grandes necessidades. Houve situação em que foram quase seis meses de atraso de salário. Ali se aprofundava minha leitura de mundo, que como refletia Paulo Freire, antecede a leitura das palavras. Observava meus professores e professoras mantendo sua dignidade, compromisso e respeito com a nossa educação diante de uma situação tão vulnerável socialmente e politicamente. O mais contraditório é que esse ex-governador é tratado como um grande erudito. Foi erudito, injusto, negligente com a educação, geriu o Estado para quem?

Naquela época não pensava em me tornar professora e pesquisadora, apenas jornalista. Mas a casa em que vivi, a igreja que frequentei, as ruas onde brincava e as poucas escolas em que estudei certamente foram espaços de múltiplas aprendizagens que somaram ao meu perfil de educadora.

Quando escuto ou vejo nos noticiários agentes “públicos” se referirem aos educadores brasileiros de forma depreciativa e morrendo de medo de Paulo Freire, acredito mais ainda nos processos educativos pautados na pedagogia da pergunta e na autonomia. Porque, infelizmente, estamos diante de um sistema quase falido, movido e sendo direcionado cada vez mais por interesses mercantis, e que no cotidiano desestabiliza crianças, adolescentes e jovens, gerando ansiedade, depressão e por vezes, suicídio.

Um modelo que desumaniza e precisa urgentemente ser reinventado diariamente, a partir da nossa realidade, necessidade e criatividade. Não apenas secularmente reproduzindo modelos vindos de fora do País. Educadores e educadoras do Brasil ajudaram a reinventar a educação no mundo, e esse legado, amplamente sistematizado por Paulo Freire não há borracha que apague.

Falar e exercitar outro tipo de prática educativa pode ser muito “perigoso” para dementadores que tentam a todo custo destruir simbolicamente a Educação brasileira ofendendo e atacando professores e professoras. E que promovem o desmonte das políticas públicas na área de educação criando toda sorte de heresia na fábrica de informações falsas.

Quando a gente comemora o Dia dos Professores e Professoras não basta apenas prestar homenagem, comprar um presente, fazer a festa na escola. Talvez seja preciso reconhecer e defender o campo da Educação e seus profissionais, dada sua centralidade para o desenvolvimento social justo, uma economia equilibrada e um sistema político mais democrático.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *