Li recentemente Will Eisner,uma clássica obra em HQ, reeditada por Devir Quadrinhos e comprada na Banca do Farias. Depois de escrever uma tese precisava me purificar. Primeiro veio Mundo Pet, do Lourenço Mutarelli, irresistível. Logo após veio a graphic novel do Eisner. A história que dá título a coletânea, Contrato com Deus (lançada em 1978, e contendo quatro histórias sobre a vida no Bronx dos anos 30), me habitou, e ainda estou com ela, guardada em um lugar secreto que nem sei se ouso tocar com tamanha intensidade com a qual o autor a construiu a partir de si mesmo e seu diálogo/conflito com o Divino.

A leitura voraz dos quadrinhos de Eisner revitalizaram a memória dos inúmeros contratos invisíveis construídos com o Sagrado ao longo dos meus dias, feitos à revelia dos corretores imobiliários da fé. Contratos muitas vezes sem palavras, ou papiro… Uns fiz ao vento, muitas vezes sentindo-me a mais especial das criaturas, outros no entanto, no subterrâneo, balbuciando, na tentativa de encontrar as asas ou os fios que me tirassem de alguns labirintos.

Na paisagem urbana de um cortiço, onde o que mais parece estar em evidência é a condição humana, Eisner desenha brilhantemente becos, personagens multiculturais, situações “fictícias” de mundos reais, demonstrando como um microcosmo pode ser expressão de questões tão universais como as perdas, a solidão, a solidariedade, o velho e o novo, a finitude e o renascimento. No cortiço descrito por ele o Sagrado deixa seus sinais nos umbrais das portas tal qual no Velho Testamento. Os personagens parecem bodes expiatórios de uma sociedade messiânica. Lembrei muito dos estigmatizados descritos por Goffman, inevitável.

Confesso que esta leitura está em aberto. De fato Eisner com sua genialidade e traços marcantes nos ajuda um pouco a rasgar o véu dos templos …

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