Nísia Floresta

Para muitas pessoas Nísia Floresta pode significar o município do Rio Grande do Norte, situado à 42 km de Natal. Recentemente a cidade ficou em evidência na grande mídia, pela rebelião na unidade prisional de Alcaçuz. Antes chamada de Papari, a localidade é o lugar de origem de uma das pioneiras na luta pelo direitos das mulheres no Brasil, a escritora, tradutora, cientista e educadora Nísia Floresta.

Essa semana recebi o feliz convite de apresentar o livro da Editora Patmos, Nísia Floresta, tratando da vida e obra de uma mulher que contribuiu para grandes transformações na sociedade brasileira. O livro, escrito por Sabrina Bezerra, ilustrado por Gabriel Jardim, é uma HQ ( História em Quadrinhos), dedicado ao público infantojuvenil.

Já havia lido tantos outros títulos dessa preciosa coleção Primeira Leitura, como é denominada. O trabalho editorial vem se debruçando sobre personagens históricos em diferentes campos do conhecimento. Já nas primeiras leituras percebia uma presença mais hegemônica de personagens masculinos. Tempos depois me deparei com os primeiros números que considerava trajetórias femininas, com as histórias de Anayde Beiriz e Eudésia Vieira. Um passo muito relevante na valorização e reconhecimento do que estas mulheres representam na história da Paraíba, e do Brasil.

Sabrina Bezerra faz um trabalho primoroso, em falar para crianças e adolescentes, sem infantilizar suas personagens. Como historiadora vem refletindo há muito tempo sobre a experiência das mulheres e as narrativas de si. Assim foi com seu trabalho analítico valorizando a trajetória das primeiras magistradas paraibanas, em que discorre sobre a presença no campo do Direito das juízas Ofélia Gondim, Helena Alves de Souza e Ofélia Amorim.

Em Nísia Floresta, ela nos convida a leitura, a partir de um ponto de vista relevante no tocante à cidadania feminina, a relação memória-esquecimento. Precisamos fazer constantemente a nossa memória, tecer o tempo, construir um tempo das mulheres e seus feitos, tão negligenciados. Uma publicação como esta é crucial para novas gerações. A escrita nos encanta. Mas o ato de escrever é também travar grandes batalhas. Aprender a ler e a escrever foi uma conquista que chegou muito depois para mulheres. Como aprender matemática, ciências, geografia. Todas nós brasileiras devemos isso ao pioneirismo de Nísia, quem primeiro abriu uma escola para moças, reconhecendo sua relevância como sujeito social.

Ouvi pela primeira vez sobre Nísia Floresta, nos anos 2000, por meio do projeto editorial Dicionário das Mulheres do Brasil, de Shuman Shumaher e Érico Vital Brasil, publicados pela Zahar. A publicação nasceu como uma proposta de contar a história do Brasil pelo olhar feminino. Reconhecendo e valorizando presença feminina na história do País, diante do contexto das comemorações dos 500 Anos de “Descobrimento”. O projeto naquele momento tinha a intencionalidade de tirar da invisibilidade tantas histórias, e assim construiu em torno de 900 verbetes, e 270 ilustrações. Tão relevante e impactante que a partir daí, muitas mulheres e homens puderam enxergar, perceber, entender e reconhecer o protagonismo das mulheres na construção da sociedade brasileira.

A história da Nísia, uma das educadoras mais importantes da história do Brasil, é densa, fala sobre enfrentamento à violência, superação e um termo muito falado atualmente, que é sororidade. A publicação nos mostra como a consciência das injustiças sofridas pelas mulheres se desdobrou num projeto de inclusão do sujeito feminino não apenas na educação, mas na história do Brasil.

A gente torce para que a Coleção Primeira Leitura da Patmos tenha vida longa, e que também possa se abrir cada vez mais às histórias de diferentes mulheres como Violeta Formiga, Margarida Maria Alves, Vó Mera, Odete de Pilar, Olivina Olívia, Cátia de França, Zezita Matos, Marinês, Elizabeth Teixeira, e tantas, e tantas, e incríveis mulheres da Paraíba e do Brasil cujas trajetórias iluminam às nossas vidas.

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