Jaguaribe

Essa semana fui ao bairro de Jaguaribe. Quando cheguei à Capital foi um dos primeiros bairros que conheci. Enquanto caminhava por ruas que sempre levam a alguma pracinha, observando as casas repletas de poesia e saudosismo, fui fazendo a minha linha do tempo enquanto estive por lá. Nunca morei de forma fixa, eu habitei Jaguaribe na transitoriedade de minhas crenças. Cheguei por via delas a esse microcosmo da cidade por causa da Igreja Evangélica Batista, lugar que me acolheu como jovem estudante universitária.

Na Rua dos Jambeiros também conhecida por Oswaldo Pessoa, passei uns três anos indo e vindo quase que ininterruptamente. Cada ida à Jaguaribe era um deleite pra mim, que gosto tanto de arquitetura, de patrimônio histórico, de rua, de sentir o espaço urbano. Eu que sempre gostei de bater perna pelas ruas, ouvindo música, ou em total silêncio, observando as pessoas, experimentando comidas, escutando conversas, curiosa. Nos primeiros anos da década de 1990, Jaguaribe significou um lugar em que vi minha vida adulta aportando.

Como jovem que participou da vida ativa daquela pequena igreja pude aprender a ensinar, tocar violão, fazer teatro amador, coordenar atividades com jovens e adolescentes, ser palestrante, aprendi a ser protestante, literalmente. Pude defender minhas ideias, aprendi a discordar, a argumentar e entender que não precisamos pensar da mesma forma. Entendi porque a fé e a espiritualidade são uma experiência única que habita nosso ser.

Claro que a gente pode aprender essas coisas em tantos outros espaços. Só que na minha vida esse espaço foi uma experiência de crescimento e singularidade. Lamento apenas que, no tempo presente, parte considerável das igrejas, de quaisquer expressão religiosa, tenha perdido as características de ser uma comunidade, e tenha se transformado numa triste narrativa esvaziada de sentido ou caído em contradição com a fé apregoada.

Embora tanto se fale no movimento cultural Jaguaribe Carne, minha temporalidade no bairro não alcançou sua dinâmica. O que eu guardo de lá e sempre atualizo em mim ao caminhar pelas ruas é a sua particularidade como bairro residencial lindo, de flores nos jardins, de mercadinhos e pequenas padarias, lugar de costureiras, motoristas, feirantes. Com o passar do tempo fui conhecendo outras facetas do bairro.

Comecei minha vida profissional em Jaguaribe como estagiária de comunicação na assessoria de imprensa da antiga Escola Técnica, hoje Instituto Federal de Educação Tecnológica da Paraíba. Nesse tempo eu fazia muitas vezes questão de sair caminhando da Diogo Velho ou do Mercado Central para chegar até quase o final da rua Primeiro de Maio, só para ir curtindo as ruas, as moradias, observando para dentro das casas dos outros, espiando portas, janelas e mosaicos. Havia tempo para isso… E sair de Jaguaribe passando pela Balaustrada? Um deleite, poder parar por uns cinco minutos diante do pôr-do-sol que parecia me levar a Eternidade. E dali caminhar nas Trincheiras como se fosse a Dorothy chegando em Oz. Amava, e sempre vou gostar, ainda que hoje a cidade se desfaça lentamente em ruínas.

Foi na Feira de Jaguaribe que conheci dona Zezé, vendendo peixes, linda, com unhas pintadas com esmalte vermelho bem vivo e impecáveis. Me ensinou nomes das espécies, cortes e receitas. Sempre que consigo aportar na feira sigo procurando por ela, para ter a alegria de ver seu sorriso. Por incrível que possa parecer eu me perdia vez por outra na feira de Jaguaribe, e me encontrava também, mesmo que apressada.

Ao voltar lá essa semana revivi várias emoções, tão fluidas. Achei uma pequena padaria, sentei, tomei café com leite e comi um ‘bolinho de saia’. Recordei da esquina onde encontrei seu Paulo vendendo cuscuz-bondade. E achei nessa mesma padaria um tipo de doce que comia quando era criança, geralmente servido em algum momento de confraternização em família. Depois da minha infância só fui encontrar o doce no Chile, por nome de palmeras(palmeritas). Quando na padaria de Jaguaribe encontro palmeiras em formato de estrelas e aquele clássico pacote de bolacha de sequilho, me sinto grata à Vida, por sentir o que me cerca.

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